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Aug 29 2011

Captação de Som Direto Multipista e Fluxos de Trabalho

Esta semana Joaquim Pinto, português criador do FilmeBase e experiente profissional do som do cinema Europeu, escreveu no grupo de discussão sobre som no cinema Som Directo Cinema Video uma análise sobre a captação de som direto multipista e os fluxos de trabalho na produção sonora cinematográfica contemporânea. Pra mim foi uma grande fonte de aprendizado e por isso decidi tomar a liberdade de posta-la aqui:

 

Antes de mais, gostaria de expressar o meu entusiasmo em relação à diversidade criativa e à vitalidade da indústria cinematográfica e audiovisual brasileira. Sem conhecer de perto a vossa realidade, imagino que os diferentes métodos reflitam projetos de carácter distinto. Impressiona-me a vossa capacidade para conjugarem influências de outras cinematográfias com a vossa tradição, construindo uma identidade própria e original.

Em relação às opções de captação e pós-produção, sem querer ser fundamentalista, julgo que a introdução de gravadores multipista tem acentuado diferenças entre dois métodos.

Predominantemente, na Europa, o som direto é gravado em diversas pistas pós-fader, com uma mistura para 2 pistas para a montagem de imagem. Nessa mistura, a perche é geralmente colocada na pista A (ou Xa no Cantar) e os HFs são colocados na pista B (Xb). Sendo as pistas individuais gravadas pós-fader, as decisões de equilíbrio entre as pistas refletem as opções de mistura em 2 pistas tomadas durante a rodagem. A qualidade do trabalho é avaliada por essa mistura fornecida para as projeções síncronas diárias, e várias vezes é usada na mistura final quando o equilíbrio é correto, evitando ter que recorrer às pistas individuais e ganhando tempo. O Cantar é um exemplo desta filosofia de trabalho.

Nos EUA, é mais comum gravar as pistas individuais pré-fader e fornecer uma mistura muitas vezes em mono para a montagem de imagem. Este método é por um lado mais seguro, mantendo por exemplo as pistas individuais dos lapelas “abertas”, mas por outro lado implica mais trabalho na montagem de diálogos/diretos e mais tempo nas misturas finais. Na minha opinião, reduz de certa forma a captação a um registo nas melhores condições (o que os americanos chamam “sound logger”) e é menos criativo.

Não creio que exista uma receita ideal. Importante é escolher o método que melhor se adapte ao filme. Por exemplo, num filme de ficção com diálogos escritos e encenados, gravar as pistas separadas pós-fader faz sentido, mas num documentário em que é impossível prever as ações será preferível gravar pré-fader. Julgo que os fabricantes têm vindo a entender que necessitamos de um máximo de flexibilidade, e essa consciência vem-se traduzindo no desenho dos equipamentos. Por exemplo, as mesas Sonosax SX-ST e SX-ES64 permitem escolher as duas opções para cada via, tal como o Sound Devices 788T. No Sound Devices 442, as saídas independentes são pré-fader (ao gosto dos EUA), mas no seu sucessor 552 já é possível selecionar individualmente por saída a opção pretendida, e julgo que esta escolha tem a ver com a rápida internacionalização da marca.

De qualquer forma, conseguir um bom resultado só com microfones de lapela é uma verdadeira proeza para a equipe de pós-produção e misturas e já passei por “dores de cabeça” em misturas finais quando não há bom material captado com perche / boom (mas também quando os microfones de lapela são mal colocados). A comunicação entre a equipe de som direto e a pós-produção é de facto importante, tal como definir um critério de trabalho e manter a consistência na captação. O tempo disponível na pós-produção e misturas é muitas vezes limitado. Quanto mais claro e organizado para a pós-produção for o conceito de captação de som direto, mais possibilidades há de utilizar eficazmente na pós-produção as opções permitidas pela gravação multipista.

Abraço,

Joaquim Pinto

 

Obrigado Joaquim!

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