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Dec 17 2017

Encontros Sonoros: integrando os profissionais de som do cinema brasileiro

som

A valorização das atividades relacionadas ao trabalho com o som no audiovisual e o fortalecimento da identidade sonora do cinema nacional é um objetivo de muitos dos que escolheram se especializar na arte e técnica de trabalho com o som no cinema. Especificidade essa que há anos enfrenta inúmeros desafios em busca de melhorias nos padrões de conduta profissional, de excelência técnica na produção cinematográfica do país e de mais espaços qualificados para a formação de novos profissionais da área. Se o som está em foco, é uma grande oportunidade de conhecer algumas iniciativas contemporâneas de aprimoramento e integração inerentes à classe.

Começando com a fundação da Associação Brasileira de Cinematografia (ABC) em 2000, a qual vem proporcionando encontros pertinentes de profissionais de som desde a realização da primeira Semana ABC em maio de 2002. Mesmo a ABC sendo constituída especialmente por diretores de fotografia, os sócios que compõem o “time do som” sempre buscaram uma posição representativa, uma vez que a instituição é prestigiada e reuni profissionais de diferentes atividades no segmento do audiovisual. A técnica de som direto e professora de som Tide Borges é referência fundamental no processo de estruturação dos debates sonoros e na reivindicação do troféu de Melhor Som na premiação da ABC.

Abaixo você pode assistir uma das mesas marcantes que debateram o som na Semana ABC.

2002 foi também o ano da criação da Associação dos Profissionais de Som Cinematográfico (APSC). Diante da conjuntura de falta de reconhecimento onde os profissionais de som encontravam-se desvalorizados tanto a nível financeiro no mercado quanto dentro dos próprios projetos que trabalhavam – já que eram citados apenas nos créditos finais dos filmes, quando creditados, e raros eram os festivais de cinema que dispunham de premiação para a categoria -, os técnicos de som direto cariocas Jorge Saldanha e Silvio Da-Rin iniciaram o movimento de elaboração de uma entidade que pudesse atender às demandas específicas da classe sonora. A motivação gerada durante a já citada primeira Semana ABC, realizada no Rio de Janeiro, em conjunto às reverberações das conquistas de outros movimentos independentes como as resultantes da união dos assistentes de câmera de São Paulo, por exemplo, estimularam o surgimento da primeira entidade nacional que congregou exclusivamente profissionais de som do audiovisual.

A APSC conseguiu agregar um total de 66 membros ativos entre técnicos de som direto, microfonistas, editores de som, mixadores e profissionais de estúdio de som em geral, basicamente provenientes das capitais do Rio de Janeiro e de São Paulo. Embora tendo criado com legitimidade um estatuto, a APSC se extinguiu em 2004 por conta da dificuldade dos próprios profissionais de manter em funcionamento regular a instituição.

Junto com o crescimento significativo da produção acadêmica sobre o som cinematográfico no Brasil, surge em 2009 o seminário Estudos do Som na SOCINE, essencial para a reunião de pesquisadores e professores antes dispersos em comunicações individuais, permitindo o aprofundamento das discussões e o início da consolidação deste estudo no território nacional. A corriqueira interação recente entre o trabalho acadêmico e a prática no mercado tem feito com que este seminário propicie também um aperfeiçoamento do pensamento sonoro do cinema no país, bem como do ensino nos cursos técnicos, graduações e pós-graduações em cinema e audiovisual.

O universo sonoro cinematográfico brasileiro foi portanto evoluindo durante a primeira década do século XXI. Discretamente, na cidade de Conservatória no interior do estado do Rio de Janeiro, um festival singular no Brasil e no mundo por dedicar-se exclusivamente à trilha sonora dos filmes em sua programação e premiações, veio se estabilizando desde 2007. O Festival CineMúsica, que por intermédio de seu curador original Hernani Heffner, abriu a oportunidade para um novo patamar de integração entre os especialistas e interessados na área sonora audiovisual. Surge assim o Encontro Nacional dos Profissionais de Som do Cinema que chegou em 2017 à sua V edição, firmando-se como espaço cultural agregador e proporcionando momentos históricos de engajamento e troca de conhecimentos. Contando com a participação e o know how de profissionais de renome de diversas regiões do Brasil, atualmente o ENPSC passa por uma importante fase de amadurecimento e autonomia onde pretende alcançar maior comprometimento, legitimidade e representatividade perante o mercado audiovisual através de medidas e melhorias práticas na cultura de produção, empreendimento, educação e apreciação audiovisual no país.

Conhecer estas iniciativas de grande relevância na tentativa de articulação e empoderamento dos profissionais de som cinematográfico em território nacional é o passo inicial para aqueles que têm interesse em somar aos movimentos de qualificação e fortalecimento da classe. Toda esta dedicação se justifica pelo potencial coletivo. Fica o convite para conhecer mais, participar e contribuir para o desenvolvimento do cinema brasileiro através dos encontros sonoros de valorização do som no audiovisual do país.

Artigo originalmente publicado por Bernardo Marquez no catálogo da Bienal Internacional do Cinema Sonoro (BIS).

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