Dando continuidade à conversa realizada com Danilo Carvalho que teve como eixo central o som do filme “Vilas Volantes, o verbo contra o vento” (Alexandre Veras, 2005), mas que também abordou outros lados da pratica sonora, segue a segunda parte.
Parte II) Formação em cinema: parcerias e relações.
Guilherme Farkas: Um dos motivos que me levaram a me interessar pelos filmes que você faz, tanto no Vilas Volantes: o verbo contra o vento [1], quanto o Sábado à Noite [2], entre outros, é justamente esse tipo de som que renova um certo cenário de cinema, um certo fazer som, e de se distanciar de um fazer som mais convencional. É justamente isso que estou buscando na minha pesquisa, esse tipo de possibilidade de criação de som, enfim. Só para pontuar, fale um pouco mais sobre a criação cinematográfica mesmo. Se por um lado a música é forte para você, você também faz muitos filmes, você está então imerso no processo do fazer cinema…
“A idéia inicial do grupo era ser uma Associação de Técnicos de Som. Mas a possibilidade de tornar o grupo de técnicos de som em um Coletivo era mais atraente e menos burocrática, e foi isso que fizemos. O grupo surgiu por volta de 2012, com o objetivo de tornar a categoria de técnicos de som mais unida e forte; para esclarecer e tentar educar o mercado audiovisual quanto as necessidades dos profissionais de som; também para que os profissionais pudessem se conectar para trocar experiências, uma vez que em Pernambuco já acontecia um movimento para formalização do trabalho no cinema local, através daABD-PE,CANNE, em alguns momentos contando com suporte e consultoria doSTIC-RJ.
Hoje, oColetivo de Som de Pernambucoconta com cerca de 20 profissionais espalhados pelo Brasil, sobretudo no Nordeste. Faz reuniões periódicas e estuda, num futuro próximo, poder promover cursos e oficinas de capacitações para seus integrantes e para o público em geral. Assim como a maioria dos profissionais de som espalhados pelo mundo e que compartilham as mesmas queixas, a perspectiva no futuro é de que técnicos de som e demais profissionais do audiovisual possam conviver “pacificamente” e que haja, pelo menos, conhecimento sobre o métier dos técnicos de som (desde o trabalho do técnico de som direto, passando pelos editores e chegando ao mixador). Para isso, o Coletivo produz material educativo sobre a profissão que são postados noblog. Os textos estão em português para que tenham um maior alcance entre os brasileiros que fazem parte do universo audiovisual (especialmente produtores e diretores de cinema).”
Continuando com a publicação de pesquisa sobre sonoridades no cinema brasileiro contemporâneo, segue a entrevista realizada comDanilo Carvalho, em sua casa na cidade de Parnaíba (PI).
A conversa realizada com Danilo teve como eixo central, assim como as do demais entrevistados na pesquisa, um filme. No caso de Danilo, o filme é “Vilas Volantes, o verbo contra o vento” (Alexandre Veras, 2005). Danilo realizou a captação de som junto comLênio Oliveira, e também fez a edição de som e mixagem. Porém a conversa com Danilo abordou outros lados da pratica sonora, menos retido em questões metodológicas ou técnicas. Danilo fala sobre a realização de filmes, suas experiências de vida e como tudo isso se desdobra no fazer som para cinema.
Danilo também é realizador e diretor de filmes e foi um dos fundadores do coletivo Alumbramento. É parceiro de longa data de Ivo Lopes Araújo e Alexandre Veras.
Parte I) Aproximações e influências com som e música
“No bate papo com a Débora Opolski nós falamos sobre edição de diálogos em longas para cinema. A Débora tem muita experiência nesse assunto e eu quis trazer um pouco disso pra vocês. O editor de diálogos é quem recebe e trata o som direto. O seu objetivo é criar uma pista de diálogos com a menor quantidade de ruídos possível. Pra conseguir isso, o editor usa procedimentos e técnicas e muita experiência, criatividade e ouvido! Ela explicou qual é o procedimento que ela usa pra editar diálogos, comentando cada etapa. Desde a abertura do OMF, organização da sessão de Pro Tools, conferencia do Som Direto, até a substituição dos takes e tudo mais. Também conversamos sobre dublagens (ADRs) e sobre como uma pessoa que trabalha sozinho no som de um filme pode usar esse conhecimento ou esses procedimento aqui pra fazer um curta.”
Seguindo adiante com a última parte da entrevista com Márcio Câmarasobre sua experiência na realização da captação de som direto do filme “Cinema, Aspirinas e Urubus” (Marcelo Gomes, 2005), segue a terceira e última parte.
PARTE III) Panorama atual da figura do profissional de som no mercado audiovisual.
Guilherme Farkas:Qual a sua relação com a pós-produção?
Márcio Câmara: Eu sinto muito… Outro dia eu estava na palestra doChris Newman[1](durante o festival do Rio de 2013) e ele sempre fala a mesma coisa, quanto mais você enquanto técnico de som conseguir ir na edição de som, mixagem melhor. Mas a gente nunca consegue… E volto a dizer, eu tenho feito essa pergunta para diversos técnicos de som direto aqui do Rio de Janeiro e todos eles se queixam da mesma coisa. Que não tem feedback, ou se tem é somente quando tem algo errado quando acha que o som está ruim. O máximo que acontece é o produtor, já conversei com aSara Silveiraque ela acha ótimo o som. Mas não tem uma interação. Esse pessoal da pós parece que vive dentro de um mundo autista. E volto a dizer, parece que a criatividade… Outra coisa que eu disse, sobre a revistaFilme Cultura n.58(O Som Nosso de Cada Filme). A única vez que o técnico de som direto é citado é peloAlessandro Larocadizendo que o técnico de som acha que o que ele escuta na sala de cinema é o som direto puro. O único momento que o técnico de som é citado! Ele está dizendo que o técnico de som acha que o que vai para a sala de cinema é o som sem todo o processo de edição e pós produção de som. Não sei que esteriótipo mais generico é esse de achar que existe essa figura do técnico de som com essa ingenuidade. Continue lendo
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